JESUS CUMPRIDOR DO ANTIGO TESTAMENTO E O SIGNIFICADO DAS GENEALOGIAS (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 05)


Toda a história de Israel é orientada para Jesus, o qual constitui o fato histórico por excelência que dá valor para todo o Antigo Testamento. De fato, Jesus reconhece a autoridade divina do Antigo Testamento e até fixa como objetivo de sua missão o cumprimento perfeito de todo ele ao afirmar “não vim abolir a lei e os profetas...” (Mt 5,17). A lei e os Profetas significam todo o Antigo Testamento. Como enviado do Pai ele cumpriu o Antigo Testamento no arco de toda a sua existência humana, ou seja, desde seu nascimento até o envio do Espírito Santo para sua Igreja. Nele encontra o cumprimento de toda a revelação de Deus (2Cor 1,20). Visto que as promessas do Antigo Testamento foram todas realizadas no Verbo feito carne: “Nós vos anunciamos a boa notícia: Deus cumpriu para nós, os filhos a promessa feita a nossos pais...” (At 13,32s). Foi Jesus mesmo na Sinagoga de Nazaré que depois da leitura do texto de Isaías (61,1s) proclamou solenemente: “Hoje realizou-se essa Escritura que acabaste de ouvir....” (Lc 4,21).
É claro portanto, que o Antigo Testamento era uma promessa, da qual os cristãos são os beneficiários (Gal 3,19). Os escritores do Novo Testamento interpretaram e aplicaram as profecias do Antigo Testamento em base à compreensão da história que é aquela dos próprios profetas, onde foi estabelecido o plano de Deus manifestado em diversas maneiras e modos, durante a história de Israel e por fim colocado em plena luz nos acontecimentos hauridos nos evangelhos. Pois bem, desta plena luz dos acontecimentos que explicitam o plano de Deus e que são marcantes nos evangelhos, José, o Carpinteiro de Nazaré, tomará parte de modo intenso, ainda que de uma maneira silenciosa e sem pronunciar uma palavra.
Dentro do contexto do Antigo Testamento podemos apresentar o significado das genealogias apresentadas no Novo Testamento pelos dois evangelistas Mateus e Lucas, os quais foram objeto de muitas  discussões desde o início dos primeiros séculos da Igreja. Os judeus esperavam um herdeiro e sucessor do Rei Davi e este, nos desígnios de Deus, se concentrava em Jesus, o qual como o Messias seria escolhido da casa de Davi. Portanto, a davidicidade torna-se a “conditio sine qua non” da messianidade. Em vista desta promessa, o ponto central do primeiro capítulo de Mateus coloca Maria grávida pelo Espírito Santo antes de coabitar com José (1, 18), explicitando desta forma a realização da promessa messiânica.

            A árvore genealógica que Mateus (1, 1-17) apresenta, quer demonstrar que  Jesus é descendente de Abraão e portanto Judeu, e descendente de Davi e por isso Messias do povo hebraico. Assim, na genealogia de Mateus aparece a messianidade e a davidicidade de Jesus, demonstrando com isso que a promessa de Deus feita a Davi concretiza-se através da presença do esposo de Maria, José, apresentado como “Filho de Davi”, o qual dá a Jesus a ascendência davídica.
Na seqüência dos versículos 18-25, Mateus revela o encontro do divino com o humano realizado na instituição da família, onde Maria, Mãe de Jesus está comprometida em casamento com José (v 18), também se a presença do Espírito Santo em Maria parece que tivesse de comportar uma cisão do vínculo matrimonial (v 19). Deus contudo, escolhe uma família humana para o honroso inserimento de seu Filho no mundo.
No momento culminante da história da salvação, José é o filho de Davi escolhido por Deus e preparado (o evangelista o denomina Justo) para ser o esposo da mãe de Jesus e para dar o nome a este Menino singular concebido por obra do Espírito Santo. Face a isso não faltam teólogos  que propõem a teologia de São José nos Tratados como o da encarnação, com o objetivo de realçá-lo como o Filho de Davi que garantiu a Jesus a sua messianidade. Outrossim, indicam também a teologia Josefina no Tratado de Mariologia, onde se deveria lembrar que a honra de Maria Virgem e Mãe, está ligada ao fato dela ser a “esposa de José”.
É fundamental termos em consideração a afirmação de Mateus (1,16) o qual não diz que José “gerou Jesus”, mas que “Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus”. Nesta afirmação o evangelista deixa claro a concepção virginal de Jesus, explicitando que José não é o seu pai natural. Mesmo que Mateus tivesse dito: “José gerou Jesus”, continuava contudo afirmando a concepção virginal de Jesus, pois a palavra “gerar” na Bíblia nem sempre se refere à geração física, podendo também entender aquela geração puramente legal, já que os hebreus viam e aceitavam sem problema em suas genealogias também os pais adotivos, sem uma distinção rigorosa entre ambas. Com isso, José sendo simplesmente pai legal, ele, de direito transmitiu a descendência a Jesus. Portanto, por meio de José Jesus é descendente de Davi e herdeiro da promessa divina.
Sabemos que os hebreus viam como condição necessária para a chegada do Messias prometido, que este fosse da descendência de Davi (2Sam 7,16; 1Cr 17,14). A única exceção eram os monges de Quamram, os quais esperavam um Reino onde o representante fosse da classe sacerdotal.


Questões para o aprofundamento pessoal


1.    Leia e tome conhecimento do relato sobre a árvore genealógica em Mt 1,1-17 e procure dar uma explicação para o versículo 16.
2.    Em Jesus, Deus cumpriu a promessa feita a Abraão, por que a presença de José é indispensável no relato da genealogia de Jesus?
3.    Quais as duas características essenciais que Mateus evidencia no relato de sua genealogia a respeito de Jesus ligado a José?